Há uma idéia equivocada no meio evangélico cuja consistência se dá em acreditar que na pregação e na evangelização não podemos de maneira alguma buscar persuadir os ouvintes a acreditarem no que falamos. Esse pensamento corrente é um erro, porque todo o discurso é uma argumentação, que visa persuadir alguém de algo. Sendo a pregação um discurso e tendo uma estrutura básica de exórdio, argumentação e peroração, a pregação visa persuadir alguém de algo.
Se eu prego que a palavra de Deus é a verdade, (1) estou defendendo a veracidade bíblica e (2) quero que meu interlocutor acredite ser a palavra de Deus a verdade. Para (1) e (2) eu tenho de apresentar argumentos plausíveis. Não posso simplesmente dizer que Jesus é o único caminho que leva a Deus, que Cristo é a verdade, que Cristo é a vida, sem apresentar nenhuma argumentação para isso.
A apologética trata de apresentar perante os ímpios argumentos plausíveis sobre a veracidade da fé cristã. Todavia, mesmo em uma pregação somente para evangélicos, eu devo apresentar o pensamento bíblico e a argumentação que lhe dá base. Por exemplo:
Se quero levar a igreja à oração em favor de certa causa, não posso chegar simplesmente dizendo para orarem em favor da causa, mas preciso argumentar que a oração move a mão de Deus, que a oração de um justo pode muito em seus efeitos; posso até mostrar um fato de alguém que orou e aconteceram coisas grandiosas. Posso falar de Josué, que orou e o sol e a lua, e conseqüentemente a terra e todo o universo, pararam. Posso falar de Elias que orou e não choveu, depois orou e choveu, segundo a vontade de Deus. Posso falar de Paulo que pediu a igrejas oração para que pudesse falar com coragem e ousadia, fazendo notório o mistério do Evangelho. Posso apresentar também alguma experiência minha ou de alguém conhecido que orou e foi abençoado. Todos esses fatos apresentados são provas, e, como provas, fazem parte da argumentação. Ora, só argumentamos para convencer, se não não argumentaríamos, não seria necessário. Logo, quando se prega se argumenta.
Para fortalecer ainda mais a idéia que apresento, quero citar alguns versículos bíblicos:
Atos 17:1-4
"E, passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. E alguns deles creram e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres distintas."
Atos 17:16-18
"E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos e, todos os dias, na praça, com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos. Porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."
Atos 18:4
"E todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos."
Atos 18:19
"E chegou a Éfeso e deixou-os ali; mas ele, entrando na sinagoga, disputava com os judeus."
Atos 18:28
"Porque com grande veemência convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo."
Atos 19:8-9
"E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano."
E, sabendo que há em outras passagens coisas que nos remetem ao entendimento de que a persuasão em si não é má, cito apenas mais uma passagem como ratificador:
II Coríntios 10:4-6
"Porque as armas de nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo, e estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência."
Mas, procurando evitar dúvidas, quero citar Aos Colossenses 2:4 e 2:8.
"E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas." [2:4]
O problema ao qual Paulo adverte não recai sobre a persuasão em si, mas sobre o engano que homens persuasivos podem causar, tirando os cristãos da fé recebida. A persuasão usada para enganar é, de fato, extremamente prejudicial e não deve ser utilizada. Não pode haver engano em nossa boca. Mas a persuasão utilizada em prol da verdade é proveitosa e deve ser utilizada. Caso não fosse assim, Paulo estaria se contradizendo, porque a atitude produtiva dele em Atos dos apóstolos era a de disputar e persuadir, enquanto agora ele adverte contra as palavras persuasivas. É claro que não há contradição, porque o problema está em buscar persuadir para o engano.
"Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;" [2:8]
Paulo aqui adverte contra as filosofias que rejeitam o Evangelho e andam segundo a tradição dos homens, como o gnosticismo que espreitava a pequena igreja em Colossos. Também, Paulo fala das "vãs sutilezas", isto é, palavras sutis e inúteis.
Estas coisas postas, vê-se claramente que buscar persuadir as pessoas a acreditarem que Jesus é o Cristo não é prejudicial, mas grandemente salutar.
Um abraço a todos.
(Rouver Júnior)
Se eu prego que a palavra de Deus é a verdade, (1) estou defendendo a veracidade bíblica e (2) quero que meu interlocutor acredite ser a palavra de Deus a verdade. Para (1) e (2) eu tenho de apresentar argumentos plausíveis. Não posso simplesmente dizer que Jesus é o único caminho que leva a Deus, que Cristo é a verdade, que Cristo é a vida, sem apresentar nenhuma argumentação para isso.
A apologética trata de apresentar perante os ímpios argumentos plausíveis sobre a veracidade da fé cristã. Todavia, mesmo em uma pregação somente para evangélicos, eu devo apresentar o pensamento bíblico e a argumentação que lhe dá base. Por exemplo:
Se quero levar a igreja à oração em favor de certa causa, não posso chegar simplesmente dizendo para orarem em favor da causa, mas preciso argumentar que a oração move a mão de Deus, que a oração de um justo pode muito em seus efeitos; posso até mostrar um fato de alguém que orou e aconteceram coisas grandiosas. Posso falar de Josué, que orou e o sol e a lua, e conseqüentemente a terra e todo o universo, pararam. Posso falar de Elias que orou e não choveu, depois orou e choveu, segundo a vontade de Deus. Posso falar de Paulo que pediu a igrejas oração para que pudesse falar com coragem e ousadia, fazendo notório o mistério do Evangelho. Posso apresentar também alguma experiência minha ou de alguém conhecido que orou e foi abençoado. Todos esses fatos apresentados são provas, e, como provas, fazem parte da argumentação. Ora, só argumentamos para convencer, se não não argumentaríamos, não seria necessário. Logo, quando se prega se argumenta.
Para fortalecer ainda mais a idéia que apresento, quero citar alguns versículos bíblicos:
Atos 17:1-4
"E, passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. E alguns deles creram e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres distintas."
Atos 17:16-18
"E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos e, todos os dias, na praça, com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos. Porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."
Atos 18:4
"E todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos."
Atos 18:19
"E chegou a Éfeso e deixou-os ali; mas ele, entrando na sinagoga, disputava com os judeus."
Atos 18:28
"Porque com grande veemência convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo."
Atos 19:8-9
"E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano."
E, sabendo que há em outras passagens coisas que nos remetem ao entendimento de que a persuasão em si não é má, cito apenas mais uma passagem como ratificador:
II Coríntios 10:4-6
"Porque as armas de nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo, e estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência."
Mas, procurando evitar dúvidas, quero citar Aos Colossenses 2:4 e 2:8.
"E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas." [2:4]
O problema ao qual Paulo adverte não recai sobre a persuasão em si, mas sobre o engano que homens persuasivos podem causar, tirando os cristãos da fé recebida. A persuasão usada para enganar é, de fato, extremamente prejudicial e não deve ser utilizada. Não pode haver engano em nossa boca. Mas a persuasão utilizada em prol da verdade é proveitosa e deve ser utilizada. Caso não fosse assim, Paulo estaria se contradizendo, porque a atitude produtiva dele em Atos dos apóstolos era a de disputar e persuadir, enquanto agora ele adverte contra as palavras persuasivas. É claro que não há contradição, porque o problema está em buscar persuadir para o engano.
"Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;" [2:8]
Paulo aqui adverte contra as filosofias que rejeitam o Evangelho e andam segundo a tradição dos homens, como o gnosticismo que espreitava a pequena igreja em Colossos. Também, Paulo fala das "vãs sutilezas", isto é, palavras sutis e inúteis.
Estas coisas postas, vê-se claramente que buscar persuadir as pessoas a acreditarem que Jesus é o Cristo não é prejudicial, mas grandemente salutar.
Um abraço a todos.
(Rouver Júnior)
2 comentários:
Gostei do que disse: não é possível impor uma crença à ninguém. Acho que deviam agir da forma como sugestão, e somente quando solicitado.
Bala Salgada,
obrigado pelo comentário.
Como você pode ver, argumentar para convencer a fim de trazer as pessoas à Verdade é bíblico.
O cristanismo verdadeiro, que anda conforme às Escrituras, busca demonstrar as coisas claramente, à luz do dia.
É claro, temos um limite de compreensão, e, conseqüentemente, há coisas que não alcançamos pela razão e que, portanto, não as conseguimos explicar e devemos nelas crer. Mas não é uma crença arbitrária e sem fundamento. A Palavra de Deus nos oferece bases inabaláveis para crer nessas coisas. Assim, podemos crer nessas coisas inefáveis sem receio algum, sabendo que cremos em algo verdadeiro, porque temos bases que nos mostram isso.
Outro tanto, penso que há tantas coisas para se compreender que gastaríamos toda a eternidade estudando e nunca chegaríamos a saber tudo. Ora, a eternidade não tem fim.
Um grande abraço, em Cristo Jesus.
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