sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Se Deus não existe, quem tem o direito de decidir de modo absoluto o que é bom e o que é mau?

Texto: Aurélien Lang

Tradução: Rouver Júnior


Um artigo que coloca a ponto visível a incoerência da lógica do ateu: pode-se decidir que um acontecimento é bom ou mau se Deus não existe?


"Se Deus não existe, quem tem o direito de decidir de maneira absoluta o que é bom e o que é mau?" Ninguém. E isto é verdadeiro! Como disse acertadamente Dostoievski em Os irmãos Karamázovi: "E então, que se tornará o homem sem Deus e sem a imortalidade? Tudo é permitido, por consequência, tudo é licito?": o desastre total! Ninguém tem nada a nos falar sobre nossa maneira de viver.


Não existe nenhum valor moral objetivo sem Deus

Com efeito, se não há Deus, então não existem regras objetivas que ditam o que é bom e o que é mau. Os valores morais são, assim, como os gostos e as cores; exatamente como opiniões de um indivíduo ou fruto de uma evolução sócio-biológica.

Por consequência, em um mundo sem Deus, quem tem o direito de dizer o que é bom e o que é mau? Quem tem o direito de julgar as atitudes de Hitler inferiores às do apóstolo Pedro? Dizer que isto é bom, isto é mau, perde todo o sentido em uma realidade sem Deus. Porque, dizer que alguma coisa é má porque é proibida por Deus é perfeitamente compreensível a quem crê em um Legislador divino. Mas afirmar que qualquer coisa é má, se realmente não houvesse Deus para proibir, seria incompreensível.

O conceito de uma obrigação moral, que existisse fora do indivíduo, é totalmente incompreensível sem a ideia de Deus. Em um mundo sem Deus, não há lei objetiva que dite o que é absolutamente mau e o que é absolutamente bom; não existe senão julgamentos pessoais ou culturais relativos. Isto traz a inferência lógica da impossibilidade de se condenar as guerras, as opressões e os crimes perversos, além de não se poder chamar a fraternidade, a igualdade e o amor de coisas boas. Quando o governo de um país massacra uma parte da população, é logicamente inconcebível dizer que suas atitudes são más. Se não fosse assim, em nome de quem, então? Não há, em um universo fechado, quem pudesse ditar ao homem o que é bom e o que é mau. Ninguém pode dizer a ninguém: "É verdadeiramente mau o que você faz."


A impossibilidade de viver sem valores morais objetivos

O problema fundamental, contudo, é que esta exigência - ninguém tem o direito de dizer de modo absoluto o que é bom ou mau - é existencialmente impossível de viver. Nós não podemos, segundo essa exigência, levantar a voz quando ficamos sabendo que crianças são violentadas por um pedófilo. Nós não podemos nos levantar quando vemos que uma ditadura decidiu colocar em prática um programa de exterminação de milhões de pessoas. É impossível! Nietzsche, ele mesmo que escrevia a necessidade de viver "Além do bem e do mal", rompeu sua amizade com o compositor Richard Wagner quando este tornou-se antissemita. Também, Jean-Paul Sartre declarou após a Segunda Guerra Mundial que uma doutrina que leva à exterminação não é simplesmente uma atividade do gosto pessoal ou de opinião, de valor igual ao seu oposto. Esta exigência, segundo a qual não existe nenhum bem e nenhum mal absoluto, é impossível de viver.


O fracasso do ateísmo...

Vendo o fracasso do ateísmo nesse teste, como será que o cristianismo bíblico se comporta? O cristianismo descreve com uma desconcertante transparência a realidade. Com efeito, se Deus existe, é possível conhecer de modo absoluto o que é bom ou mau. Se há um Legislador divino, nós podemos explicar porque ficamos revoltados com as abominações cometidas na Segunda Guerra Mundial ou porque é inadmissível o abuso contra inocentes e a sua morte. Ao contrário, se Deus existe e é o Legislador, se é Ele quem determina o que é bom ou mau, eu aceito de fato que meu comportamento seja julgado por Deus? Nada mais coerente...

[link para o texto em francês http://www.questionsuivante.fr/verite_et_intolerance-110.html]

domingo, 18 de janeiro de 2009

Questão de lógica

O homem se caracteriza basicamente por ser racional e, assim, utilizar-se da lógica para alcançar pensamentos verdadeiros. Naturalmente o indivíduo já busca agir e falar pela razão. Na simples comunicação de uma ideia é necessária certa sistematização de palavras a fim de claramente transmitir os pensamentos. Não é possível a real comunicação em meio ao completo caos verbal.

O homem, contudo, embora racional, ainda está sujeito a cometer erros lógicos, tornando seu discurso, em partes ou totalmente, ininteligível. Para buscar evitar tais erros, logo, é necessário o treino para o aperfeiçoamento desta ferramenta do intelecto. O estudo da Lógica, nestas circunstâncias, apresenta-se fortemente produtivo.

Três princípios ontológicos (Ontologia, estudo do ser enquanto ser) são úteis à Lógica Formal. São eles:

1º - Princípio de identidade

Este princípio diz que uma coisa só pode ser idêntica a ela mesma.

Por mais parecidas que as coisas sejam, elas só podem ser idênticas a si próprias, porque se uma coisa fosse absolutamente igual a outra não seriam duas, mas apenas uma coisa. Concernente ao ser humano, por exemplo, apesar das grandes semelhanças de um indivíduo a outro, eles não são em tudo iguais. Entre duas pessoas muito parecidas, uma tem cabelo liso, a outra um pouco mais crespo; uma fala rápido, a outra lentamente; uma é mais calma que a outra, etc.

Não há gêmeos em absoluto iguais tanto nos traços físicos quanto nos psicológicos, mas, embora houvesse, eles seriam pelo menos diferentes quanto ao lugar que ocupam no espaço e quanto às coisas que lhes sucederam na vida, porque, até as menores diferenças são diferenças. Deste modo, não há ser igual a outro.

2º - Princípio de não-contradição

Este princípio decorre do primeiro, porque se uma coisa só é igual a ela mesma, ela não pode ser igual a outra. Noutras palavras, como disse Parmênides "Tudo que é, é". Tudo que é, é; e tudo que não é, não é. Não há possibilidade de algo ser o que é e ser o que não é. Nada pode não ser o que é e ser o que não é. Exemplificando, uma cadeira, sendo cadeira, não pode ser cadeira e não ser cadeira ao mesmo tempo. Ou ela é cadeira ou não é cadeira. Sabemos que o contrário do que é verdadeiro é falso e o contrário do falso é verdadeiro. Se duas coisas estão em contradição, conclui-se que as duas não podem ser falsas, nem as duas são verdadeiras. Ou a afirmação é verdadeira, ou a negação é verdadeira. Provada a veracidade de uma delas, automaticamente a outra demonstra-se como falsa; provada a falsidade de uma delas, automaticamente a outra é verdadeira.

Quanto à cadeira, as proposições

1 - Aquilo é uma cadeira

e

2 - Aquilo não é uma cadeira

estão em contradição. Assim, as duas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, nem falsas ao mesmo tempo. Uma há de estar certa e a outra errada.

Aqui cabe um esclarecimento. Pode-se argumentar que há a possibilidade de uma cadeira ser cadeira e mesa ao mesmo tempo, dependendo do uso que se faz dela. É claro que posso usar uma cadeira para colocar um caderno em cima para escrever um texto como faria numa mesa. Mas o erro da afirmação está relacionado à Ontologia, ao ser do qual se fala. Na afirmação feita muda-se apenas o nome, o objeto (o ser), porém, continua o mesmo. Não é porque chamo e uso o objeto X como 1 que ele é X e 1. Assim, o objeto que chamamos "cadeira" continua sendo quem é, idêntico a si, mesmo se o chamarmos e o usarmos como "mesa". O objeto não mudou, mudou o nome que lhe deram e o uso. A um mesmo objeto um chinês dá um nome, o grego outro e o escocês outro.

Ainda mais, imagine-se uma corda. Quantos usos diferentes podem ser feitos dela? Posso usá-la como brinquedo, pulando corda; posso usá-la para amarrar algum objeto; posso usá-la também para pendurar roupas. Em todos os casos o ser (o objeto) a que chamamos corda continua o mesmo, embora possamos chamar-lhe brinquedo, amarrador e varal.

Se algo é o que é e não é o que não é, podemos deduzir que uma contradição ocorre quando se atribui a um ser o que ele não é, sendo ele o que é. Formalmente, a contradição ocorre quando se atribui a um mesmo ser o que ele é e o que ele não é. Por exemplo:

- O fogo queima o papel sem queimá-lo.

Afirma-se aí que, em relação ao papel, o fogo queima-o e, ainda em relação ao papel, não queima-o. Analiticamente seria:

A - O fogo queima o papel.

B - O fogo não queima o papel.

Como as duas são contrárias, uma há de ser verdadeira e a outra falsa. Se provo que o fogo realmente queima o papel, logo, a proposição "O fogo não queima o papel" mostra-se falsa, e vice-versa.

3º Princípio do Terceiro excluído

Também decorrente do princípio de identidade, este exclui uma terceira opção entre a negação e a afirmação. Por exemplo, eu nasci ou não nasci; não posso ter nascido mais ou menos; ou o mundo foi criado ou não foi criado; não há possibilidade de haver sido meio criado, ou criado e não criado ao mesmo tempo. Com isso, uma terceira via entre o ser e o não-ser é excluída.

Finalizando, quero dizer que nossa razão é limitada, mas isso não significa que a lógica não tenha proveito, apenas não compreendemos absolutamente tudo por ela. Há muitas coisas a ser compreendidas através da lógica, mas ela é limitada. O estudo da lógica é grandemente útil e é bom que se faça, a fim de um melhor aproveitamento e precisão dos raciocínios. Seja entendido, porém, que temos um limite. Isso não significa, contudo, que não haja um campo extraordinariamente enorme para investigarmos. Devemos buscar entender as coisas tendo a consciência de que somos dependentes da revelação divina.

(Rouver Júnior)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Deus não é demonstrável!

Texto: Jonathan Kitt

Tradução: Rouver Júnior


"Não há evidências suficientes!" É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? Julguem vocês.


"Não há evidências suficientes!"

É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? E o que se entende por "provas"? Segundo o Petit Larousse, uma prova é "aquilo que demonstra, estabelecendo a verdade de alguma coisa".


Não se demonstra Deus

A epistemologia é a teoria do saber, do conhecimento (do grego episteme, conhecimento).

Pode-se distinguir três grandes objeções epistemológicas à demonstrabilidade da existência de Deus.


- O princípio verificacionista

A primeira objeção nos vem de uma escola filosófica chamada de "positivismo lógico" (igualmente nomeada de "empirismo lógico", "neo-positivismo" ou "empirismo racional"), e mais precisamente de "verificacionismo". O postulado no qual esta filosofia se baseia é: para fazer sentido, uma proposição deve poder ser verificada de maneira empírica. A proposição "Deus existe", não sendo verificável, não tem sentido e não é nem verdadeira nem falsa.

Esse princípio "verificacionista", por duas razões, hoje se encontra majoritariamente abandonado.

1ª) Ele é por demais restritivo. Os filósofos rapidamente se deram conta de que a adesão a este princípio implica necessariamente o abandono de grande número de proposições, tanto metafísicas, quanto éticas e científicas, porque essas proposições não são verificáveis.

2ª) Ele se auto-refuta. Com efeito, a proposição "Uma proposição com sentido deve ser verificável" não é, por si mesma, verificável.


- A ausência de prova indica a inexistência de Deus?

O ateísmo supõe que a ausência de provas em favor da existência de Deus justifica a crença na sua inexistência. Porém, a ausência de provas não é necessariamente uma prova da inexistência. Peguemos, por exemplo, o processo criminal de um assassino. A ausência das impressões digitais do acusado na arma do crime não será suficiente para o absolver. Ele deverá apresentar um álibi, quer dizer, poder provar de modo irrefutável que ele não poderia ter cometido o crime do qual é acusado.

Pode-se perguntar se, em certas situações, a ausência de provas constitui uma prova da inexistência. Imagine-se em uma sala de aula em que, subitamente, alguém exclama "Tem um elefante na sala!". Se você não vir um elefante, logo concluirá sem dúvida alguma que não há um elefante. Um pouco mais tarde, outra pessoa, por sua vez, exclama: "Tem uma pulga na sala!". O fato de você não ver a pulga não bastaria para afirmar que não há pulga alguma na sala. Assim, a ausência de provas não demonstra a inexistência senão no caso em que, se o ser ou a coisa existisse, você esperaria ter provas.

O filósofo ateu Michael Scriven explica que na ausência de provas da existência de um ente, dois critérios são necessários para justificar a convicção de que este ente não existe:

1º) O ente deve ser tal que deveria se esperar dele que deixasse sinais (ou mais sinais) de sua existência.

2º) Deve ser possível afirmar haver feito todas as buscas possíveis e imagináveis antes de concluir que estas provas não existem.

Assim, o ateu crê poder provar que, se Deus existe, deveria haver provas de sua existência e que ele procurou essas provas sem as encontrar: "Se Deus existe, X deveria ser encontrado. Não se encontra X, logo, Deus não existe". Ele afirma, portanto, saber quais os gêneros de provas que deveriam haver se Deus existisse. Isso nos parece presunçoso...


- Deus deveria deixar mais evidências?

Uma terceira objeção levantada contra a existência de Deus baseia-se neste argumento: a existência de Deus, não sendo também mais evidente do que se poderia pensar, ou que deveria o ser, sucede que Deus não existe. Certos ateus afirmam que, se Deus existisse, Ele haveria feito as coisas de forma que as provas fossem suficientes para que todo o mundo cresse que Ele existe.

No Antigo Testamento Deus é descrito como que se manifestando ao seu povo de maneira bem visível: as pragas no Egito, as colunas de fogo e de fumaça que guiaram o povo de Israel no deserto, a separação das águas do Mar Morto...[mar Vermelho, na Bíblia] Mas estas manifestações produziram uma mudança durável de coração entre o povo? Não! O povo rejeitou a Deus por várias vezes. Por que as coisas seriam diferentes hoje?

Deus não quer somente que nós creiamos que Ele existe. Ele deseja que creiamos no que a Bíblia nos ensina acerca de quem Ele é: um Deus santo, justo, perfeito, cheio de amor e de misericórdia. João Calvino, o reformador protestante, dizia que de nada vale crer que Deus existe se não se deseja conhecê-lo.


Deus se revela

A Bíblia nos diz que "as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (Romanos 1:20). Não se pode provar sem sombra de dúvida que Deus existe, mas há certo número de argumentos que nos levam a crer.

[A versão utilizada na tradução do trecho do versículo bíblico foi a ARC. O autor utiliza assim: "les perfections invisibles de Dieu, sa puissance éternelle et sa divinité, se voient comme à l'oeil nu, depuis la création du monde, quand on les considère dans ses ouvrages."]

link para o texto em francês: http://www.questionsuivante.fr/science_et_christianisme-100.html


CONSIDERAÇÕES DO TRADUTOR

Há a necessidade de se fazer algumas considerações porque, apesar de o texto ser muito produtivo, a sua totalidade não expressa absolutamente a minha visão das coisas.

1ª - Esta primeira consideração não configura uma discrepância, mas simplesmente um maior esclarecimento sobre o princípio verificacionista em relação à assertiva "Deus existe". Se, por um lado, não se pôde até hoje verificar-se através de experiências a afirmação "Deus existe", por outro, a proposição "Deus não existe" também não foi provada. Assim, crer na não existência de Deus pelo fato de não haver sido provado empiricamente a validade da expressão "Deus existe" é cair em incoerência, porque não se conclui necessariamente que Deus não existe apenas por não se enxergar provas empíricas. Para tanto, seria absolutamente necessário a verificação da afirmação "Deus não existe".

2ª - No caso do processo criminal de um assassino, a ausência de digitais na arma do crime não será de fato suficiente para o absolver, mas tampouco bastará para culpá-lo. Para não ser incriminado basta não haver provas do crime. Mas o seu inocentamento não decorre da sua real inocência, porém, do fato de que não se apresentou nenhuma prova de que ele é culpado ou inocente, sendo, nesta circunstância, impossível a afirmação da sua culpa ou da sua inocência. Com certeza, ele é ou culpado ou inocente, mas faltam provas.

3ª - Quanto ao caso no qual se afirma a presença de um elefante na sala, a presença imediatamente vista do elefante é o bastante para provar sua presença. No caso da pulga, não se percebe de imediato a presença da pulga. Contudo, isso não implica na ausência total de provas, não implica a inexistência de provas, porque pode-se encontrar a pulga através de uma procura minuciosa e aplicada. Assim, mesmo com a pulga há prova que demonstre a sua presença na sala, se a declaração "Há uma pulga" for verdadeira.

4ª - O texto traduzido afirma não ser possível provar sem dúvida a existência de Deus, o que é questionável, porque as evidências e a razão apontam e exigem a necessidade de um Ser incriado, eterno, infinito, Criador, cuja existência não depende de tempo e espaço. Para que um dia houvesse algo, como hoje há várias coisas, é necessário que sempre houvesse algo, pois do nada absoluto não há a mínima possibilidade de surgir alguma coisa. Não sendo o universo eterno, porque, se o fosse, haveria uma quantidade infinita de fatos no passado de modo que nunca chegaríamos a viver o momento presente, é necessário que Deus haja criado a matéria, o tempo, o espaço, enfim, toda a criação.

O universo não é eterno e não pode ter surgido do nada. Assim, antes do universo havia algo, havia, logo, Deus.

O texto também afirma que há um grande número de argumentos que nos fazem crer. Ora, os argumentos que racionalmente demonstram a necessidade da existência de Deus são as provas objetivas de Sua existência, embora a razão humana seja limitada e a revelação divina seja imprescindível.

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ciência não sepultou a Bíblia?

Texto: Pierre-Sovann Chauny

Tradução: Rouver Júnior


Neste artigo você entenderá a diferença entre ciência e cientificismo e compreenderá também que aqueles que opõem ciência e Bíblia são vítimas de um grave mal-entendido.

Aqueles que perguntam: "A ciência não sepultou a Bíblia?" afirmam ser necessária a escolha entre os fatos científicos e o imaginário bíblico, sendo impossível acreditar nos dois ao mesmo tempo.

Esse conflito entre a ciência e a Bíblia vem de que, muito freqüentemente, a ciência ultrapassa seus próprios limites: em lugar de permanecer dentro de um método de descoberta da realidade, ela assume uma visão geral da realidade supondo abarcar todas as coisas. Ou, como dizia o matemático britânico Karl Pearson: "O objetivo da ciência é claro: nada menos que interpretar completamente o universo".


I. Pressuposto contra pressuposto.

O pressuposto que muitos cientistas, como Karl Pearson, adotam é "o método científico é o único meio que permite chegar-se à totalidade do saber". Atribui-se aqui à ciência uma autoridade absoluta. Essa concepção da ciência afirma também claramente que não se descobre a verdade se não pelo método empírico. Mas a Bíblia diz que o homem não pode descobrir a verdade última por si mesmo.

É aqui que repousa o conflito fundamental entre certa concepção da ciência, de um lado, e a Bíblia, de outro. O cientificismo pretende que não há nada verdadeiro além do que é observável e verificável, enquanto o cristianismo defende que a verdade suprema não pode ser encontrada a não ser pela revelação divina.


II. O perigo do cientificismo.

Os cristãos aceitam a veracidade dos fatos científicos. O que não aceitam é a interpretação que determinados cientistas dão a esses fatos. Entre os fatos cientificamente estabelecidos e a Bíblia não há nenhum conflito real; mas existe um considerável conflito entre o que a Bíblia diz e certas teorias não provadas (a saber, a Teoria da Evolução, como explicação exaustiva do universo, não é mais que uma teoria). A Bíblia, é verdade, é escrita em uma linguagem que não utiliza a terminologia científica, mas isso não significa que ela seja cientificamente inexata. De fato, alguns dos maiores cientistas da era moderna (tais quais Pascal, Newton, Faraday, Pasteur e tantos outros ainda hoje) criam ou crêem na total veracidade da Bíblia. Pode-se ser um grande cientista sem que, para isso, se acredite que a Bíblia está enterrada.

O conflito entre a ciência e a Bíblia não existe senão quando os cientistas ultrapassam os limites de seu campo de conhecimento, quando saem do que é observável e reproduzível (por exemplo, quando especulam acerca da origem do universo, sobre o valor do indivíduo ou a respeito do destino de nossa espécie). Quando a ciência é utilizada assim, ela na verdade não é mais científica, mas se tornou uma "metalinguagem" (méta-récit), uma explicação global da realidade, um ponto de vista religioso, pois pretende explicar as coisas que não estão sujeitas nem à observação nem à experimentação.


Conclusão:

A questão não é mais tanto "A ciência não sepultou a Bíblia?", mas muito mais "O homem quer realmente se submeter à Palavra de Deus?". A Bíblia descreve os personagens que rejeitam se submeter a Deus como aqueles que "não o glorificaram como Deus" [ver nota do tradutor]. Por isso os homens rejeitaram, a priori, a revelação que Deus nos deu de si mesmo, o que nos parece que a Bíblia não pode ser verdadeira. Dizer que a ciência sepultou a Bíblia é, logo, apenas uma justificativa, uma desculpa para realmente não considerar a possibilidade de que a mensagem da Bíblia possa ser verdadeira.

[Link para o texto em francês, no site Question Suivante: http://www.questionsuivante.fr/science_et_christianisme-10.html]

*No texto traduzido o autor cita "n'ont pas jugé bon de reconnaître Dieu". Como não encontrei na Bíblia a expressão citada exatamente, achei que se pudesse tratar de um trecho da Epístola Aos Romanos 1:21, no qual se diz de pessoas que obstinadamente rejeitaram glorificar a Deus. [N.T.]

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Agradecimento ao Question Suivante

Agradeço ao site Question Suivante que, pela pessoa de Aurélien Lang, autorizou-me a traduzir os textos do site, o que muito me ajudará, eu penso, na aprendizagem e desenvolvimento da língua francesa, bem como na divulgação de pensamentos verdadeiros.

Meus sinceros agradecimentos.

Muito obrigado.

link para o site: www.questionsuivante.fr

Je remercie au site Question Suivante que, au travers de Aurélien Lang, m'a donné la permission de traduire les textes du site, ce que m'aidera beaucoup, je pense, à l'apprentissage et développement de la langue française, et aussi à la divulgation de pensées vraies.

Mes sincères remerciements.

Merci beaucoup.

Lien pour le site: www.questionsuivante.fr

(Rouver Júnior)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O crente pode persuadir?

Há uma idéia equivocada no meio evangélico cuja consistência se dá em acreditar que na pregação e na evangelização não podemos de maneira alguma buscar persuadir os ouvintes a acreditarem no que falamos. Esse pensamento corrente é um erro, porque todo o discurso é uma argumentação, que visa persuadir alguém de algo. Sendo a pregação um discurso e tendo uma estrutura básica de exórdio, argumentação e peroração, a pregação visa persuadir alguém de algo.

Se eu prego que a palavra de Deus é a verdade, (1) estou defendendo a veracidade bíblica e (2) quero que meu interlocutor acredite ser a palavra de Deus a verdade. Para (1) e (2) eu tenho de apresentar argumentos plausíveis. Não posso simplesmente dizer que Jesus é o único caminho que leva a Deus, que Cristo é a verdade, que Cristo é a vida, sem apresentar nenhuma argumentação para isso.

A apologética trata de apresentar perante os ímpios argumentos plausíveis sobre a veracidade da fé cristã. Todavia, mesmo em uma pregação somente para evangélicos, eu devo apresentar o pensamento bíblico e a argumentação que lhe dá base. Por exemplo:

Se quero levar a igreja à oração em favor de certa causa, não posso chegar simplesmente dizendo para orarem em favor da causa, mas preciso argumentar que a oração move a mão de Deus, que a oração de um justo pode muito em seus efeitos; posso até mostrar um fato de alguém que orou e aconteceram coisas grandiosas. Posso falar de Josué, que orou e o sol e a lua, e conseqüentemente a terra e todo o universo, pararam. Posso falar de Elias que orou e não choveu, depois orou e choveu, segundo a vontade de Deus. Posso falar de Paulo que pediu a igrejas oração para que pudesse falar com coragem e ousadia, fazendo notório o mistério do Evangelho. Posso apresentar também alguma experiência minha ou de alguém conhecido que orou e foi abençoado. Todos esses fatos apresentados são provas, e, como provas, fazem parte da argumentação. Ora, só argumentamos para convencer, se não não argumentaríamos, não seria necessário. Logo, quando se prega se argumenta.

Para fortalecer ainda mais a idéia que apresento, quero citar alguns versículos bíblicos:

Atos 17:1-4
"E, passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. E alguns deles creram e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres distintas."

Atos 17:16-18
"E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos e, todos os dias, na praça, com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos. Porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."

Atos 18:4
"E todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos."

Atos 18:19
"E chegou a Éfeso e deixou-os ali; mas ele, entrando na sinagoga, disputava com os judeus."

Atos 18:28
"Porque com grande veemência convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo."

Atos 19:8-9
"E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano."

E, sabendo que há em outras passagens coisas que nos remetem ao entendimento de que a persuasão em si não é má, cito apenas mais uma passagem como ratificador:

II Coríntios 10:4-6
"Porque as armas de nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo, e estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência."

Mas, procurando evitar dúvidas, quero citar Aos Colossenses 2:4 e 2:8.
"E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas." [2:4]

O problema ao qual Paulo adverte não recai sobre a persuasão em si, mas sobre o engano que homens persuasivos podem causar, tirando os cristãos da fé recebida. A persuasão usada para enganar é, de fato, extremamente prejudicial e não deve ser utilizada. Não pode haver engano em nossa boca. Mas a persuasão utilizada em prol da verdade é proveitosa e deve ser utilizada. Caso não fosse assim, Paulo estaria se contradizendo, porque a atitude produtiva dele em Atos dos apóstolos era a de disputar e persuadir, enquanto agora ele adverte contra as palavras persuasivas. É claro que não há contradição, porque o problema está em buscar persuadir para o engano.

"Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;" [2:8]

Paulo aqui adverte contra as filosofias que rejeitam o Evangelho e andam segundo a tradição dos homens, como o gnosticismo que espreitava a pequena igreja em Colossos. Também, Paulo fala das "vãs sutilezas", isto é, palavras sutis e inúteis.

Estas coisas postas, vê-se claramente que buscar persuadir as pessoas a acreditarem que Jesus é o Cristo não é prejudicial, mas grandemente salutar.

Um abraço a todos.

(Rouver Júnior)