Texto: Jonathan Kitt
Tradução: Rouver Júnior
"Não há evidências suficientes!" É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? Julguem vocês.
"Não há evidências suficientes!"
É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? E o que se entende por "provas"? Segundo o Petit Larousse, uma prova é "aquilo que demonstra, estabelecendo a verdade de alguma coisa".
Não se demonstra Deus
A epistemologia é a teoria do saber, do conhecimento (do grego episteme, conhecimento).
Pode-se distinguir três grandes objeções epistemológicas à demonstrabilidade da existência de Deus.
- O princípio verificacionista
A primeira objeção nos vem de uma escola filosófica chamada de "positivismo lógico" (igualmente nomeada de "empirismo lógico", "neo-positivismo" ou "empirismo racional"), e mais precisamente de "verificacionismo". O postulado no qual esta filosofia se baseia é: para fazer sentido, uma proposição deve poder ser verificada de maneira empírica. A proposição "Deus existe", não sendo verificável, não tem sentido e não é nem verdadeira nem falsa.
Esse princípio "verificacionista", por duas razões, hoje se encontra majoritariamente abandonado.
1ª) Ele é por demais restritivo. Os filósofos rapidamente se deram conta de que a adesão a este princípio implica necessariamente o abandono de grande número de proposições, tanto metafísicas, quanto éticas e científicas, porque essas proposições não são verificáveis.
2ª) Ele se auto-refuta. Com efeito, a proposição "Uma proposição com sentido deve ser verificável" não é, por si mesma, verificável.
- A ausência de prova indica a inexistência de Deus?
O ateísmo supõe que a ausência de provas em favor da existência de Deus justifica a crença na sua inexistência. Porém, a ausência de provas não é necessariamente uma prova da inexistência. Peguemos, por exemplo, o processo criminal de um assassino. A ausência das impressões digitais do acusado na arma do crime não será suficiente para o absolver. Ele deverá apresentar um álibi, quer dizer, poder provar de modo irrefutável que ele não poderia ter cometido o crime do qual é acusado.
Pode-se perguntar se, em certas situações, a ausência de provas constitui uma prova da inexistência. Imagine-se em uma sala de aula em que, subitamente, alguém exclama "Tem um elefante na sala!". Se você não vir um elefante, logo concluirá sem dúvida alguma que não há um elefante. Um pouco mais tarde, outra pessoa, por sua vez, exclama: "Tem uma pulga na sala!". O fato de você não ver a pulga não bastaria para afirmar que não há pulga alguma na sala. Assim, a ausência de provas não demonstra a inexistência senão no caso em que, se o ser ou a coisa existisse, você esperaria ter provas.
O filósofo ateu Michael Scriven explica que na ausência de provas da existência de um ente, dois critérios são necessários para justificar a convicção de que este ente não existe:
1º) O ente deve ser tal que deveria se esperar dele que deixasse sinais (ou mais sinais) de sua existência.
2º) Deve ser possível afirmar haver feito todas as buscas possíveis e imagináveis antes de concluir que estas provas não existem.
Assim, o ateu crê poder provar que, se Deus existe, deveria haver provas de sua existência e que ele procurou essas provas sem as encontrar: "Se Deus existe, X deveria ser encontrado. Não se encontra X, logo, Deus não existe". Ele afirma, portanto, saber quais os gêneros de provas que deveriam haver se Deus existisse. Isso nos parece presunçoso...
- Deus deveria deixar mais evidências?
Uma terceira objeção levantada contra a existência de Deus baseia-se neste argumento: a existência de Deus, não sendo também mais evidente do que se poderia pensar, ou que deveria o ser, sucede que Deus não existe. Certos ateus afirmam que, se Deus existisse, Ele haveria feito as coisas de forma que as provas fossem suficientes para que todo o mundo cresse que Ele existe.
No Antigo Testamento Deus é descrito como que se manifestando ao seu povo de maneira bem visível: as pragas no Egito, as colunas de fogo e de fumaça que guiaram o povo de Israel no deserto, a separação das águas do Mar Morto...[mar Vermelho, na Bíblia] Mas estas manifestações produziram uma mudança durável de coração entre o povo? Não! O povo rejeitou a Deus por várias vezes. Por que as coisas seriam diferentes hoje?
Deus não quer somente que nós creiamos que Ele existe. Ele deseja que creiamos no que a Bíblia nos ensina acerca de quem Ele é: um Deus santo, justo, perfeito, cheio de amor e de misericórdia. João Calvino, o reformador protestante, dizia que de nada vale crer que Deus existe se não se deseja conhecê-lo.
Deus se revela
A Bíblia nos diz que "as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (Romanos 1:20). Não se pode provar sem sombra de dúvida que Deus existe, mas há certo número de argumentos que nos levam a crer.
[A versão utilizada na tradução do trecho do versículo bíblico foi a ARC. O autor utiliza assim: "les perfections invisibles de Dieu, sa puissance éternelle et sa divinité, se voient comme à l'oeil nu, depuis la création du monde, quand on les considère dans ses ouvrages."]
link para o texto em francês: http://www.questionsuivante.fr/science_et_christianisme-100.html
CONSIDERAÇÕES DO TRADUTOR
Há a necessidade de se fazer algumas considerações porque, apesar de o texto ser muito produtivo, a sua totalidade não expressa absolutamente a minha visão das coisas.
1ª - Esta primeira consideração não configura uma discrepância, mas simplesmente um maior esclarecimento sobre o princípio verificacionista em relação à assertiva "Deus existe". Se, por um lado, não se pôde até hoje verificar-se através de experiências a afirmação "Deus existe", por outro, a proposição "Deus não existe" também não foi provada. Assim, crer na não existência de Deus pelo fato de não haver sido provado empiricamente a validade da expressão "Deus existe" é cair em incoerência, porque não se conclui necessariamente que Deus não existe apenas por não se enxergar provas empíricas. Para tanto, seria absolutamente necessário a verificação da afirmação "Deus não existe".
2ª - No caso do processo criminal de um assassino, a ausência de digitais na arma do crime não será de fato suficiente para o absolver, mas tampouco bastará para culpá-lo. Para não ser incriminado basta não haver provas do crime. Mas o seu inocentamento não decorre da sua real inocência, porém, do fato de que não se apresentou nenhuma prova de que ele é culpado ou inocente, sendo, nesta circunstância, impossível a afirmação da sua culpa ou da sua inocência. Com certeza, ele é ou culpado ou inocente, mas faltam provas.
3ª - Quanto ao caso no qual se afirma a presença de um elefante na sala, a presença imediatamente vista do elefante é o bastante para provar sua presença. No caso da pulga, não se percebe de imediato a presença da pulga. Contudo, isso não implica na ausência total de provas, não implica a inexistência de provas, porque pode-se encontrar a pulga através de uma procura minuciosa e aplicada. Assim, mesmo com a pulga há prova que demonstre a sua presença na sala, se a declaração "Há uma pulga" for verdadeira.
4ª - O texto traduzido afirma não ser possível provar sem dúvida a existência de Deus, o que é questionável, porque as evidências e a razão apontam e exigem a necessidade de um Ser incriado, eterno, infinito, Criador, cuja existência não depende de tempo e espaço. Para que um dia houvesse algo, como hoje há várias coisas, é necessário que sempre houvesse algo, pois do nada absoluto não há a mínima possibilidade de surgir alguma coisa. Não sendo o universo eterno, porque, se o fosse, haveria uma quantidade infinita de fatos no passado de modo que nunca chegaríamos a viver o momento presente, é necessário que Deus haja criado a matéria, o tempo, o espaço, enfim, toda a criação.
O universo não é eterno e não pode ter surgido do nada. Assim, antes do universo havia algo, havia, logo, Deus.
O texto também afirma que há um grande número de argumentos que nos fazem crer. Ora, os argumentos que racionalmente demonstram a necessidade da existência de Deus são as provas objetivas de Sua existência, embora a razão humana seja limitada e a revelação divina seja imprescindível.
Tradução: Rouver Júnior
"Não há evidências suficientes!" É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? Julguem vocês.
"Não há evidências suficientes!"
É o que o filósofo britânico Bertrand Russell afirmou que responderia se Deus lhe perguntasse porque não havia crido. Pode-se demonstrar a existência de Deus? E o que se entende por "provas"? Segundo o Petit Larousse, uma prova é "aquilo que demonstra, estabelecendo a verdade de alguma coisa".
Não se demonstra Deus
A epistemologia é a teoria do saber, do conhecimento (do grego episteme, conhecimento).
Pode-se distinguir três grandes objeções epistemológicas à demonstrabilidade da existência de Deus.
- O princípio verificacionista
A primeira objeção nos vem de uma escola filosófica chamada de "positivismo lógico" (igualmente nomeada de "empirismo lógico", "neo-positivismo" ou "empirismo racional"), e mais precisamente de "verificacionismo". O postulado no qual esta filosofia se baseia é: para fazer sentido, uma proposição deve poder ser verificada de maneira empírica. A proposição "Deus existe", não sendo verificável, não tem sentido e não é nem verdadeira nem falsa.
Esse princípio "verificacionista", por duas razões, hoje se encontra majoritariamente abandonado.
1ª) Ele é por demais restritivo. Os filósofos rapidamente se deram conta de que a adesão a este princípio implica necessariamente o abandono de grande número de proposições, tanto metafísicas, quanto éticas e científicas, porque essas proposições não são verificáveis.
2ª) Ele se auto-refuta. Com efeito, a proposição "Uma proposição com sentido deve ser verificável" não é, por si mesma, verificável.
- A ausência de prova indica a inexistência de Deus?
O ateísmo supõe que a ausência de provas em favor da existência de Deus justifica a crença na sua inexistência. Porém, a ausência de provas não é necessariamente uma prova da inexistência. Peguemos, por exemplo, o processo criminal de um assassino. A ausência das impressões digitais do acusado na arma do crime não será suficiente para o absolver. Ele deverá apresentar um álibi, quer dizer, poder provar de modo irrefutável que ele não poderia ter cometido o crime do qual é acusado.
Pode-se perguntar se, em certas situações, a ausência de provas constitui uma prova da inexistência. Imagine-se em uma sala de aula em que, subitamente, alguém exclama "Tem um elefante na sala!". Se você não vir um elefante, logo concluirá sem dúvida alguma que não há um elefante. Um pouco mais tarde, outra pessoa, por sua vez, exclama: "Tem uma pulga na sala!". O fato de você não ver a pulga não bastaria para afirmar que não há pulga alguma na sala. Assim, a ausência de provas não demonstra a inexistência senão no caso em que, se o ser ou a coisa existisse, você esperaria ter provas.
O filósofo ateu Michael Scriven explica que na ausência de provas da existência de um ente, dois critérios são necessários para justificar a convicção de que este ente não existe:
1º) O ente deve ser tal que deveria se esperar dele que deixasse sinais (ou mais sinais) de sua existência.
2º) Deve ser possível afirmar haver feito todas as buscas possíveis e imagináveis antes de concluir que estas provas não existem.
Assim, o ateu crê poder provar que, se Deus existe, deveria haver provas de sua existência e que ele procurou essas provas sem as encontrar: "Se Deus existe, X deveria ser encontrado. Não se encontra X, logo, Deus não existe". Ele afirma, portanto, saber quais os gêneros de provas que deveriam haver se Deus existisse. Isso nos parece presunçoso...
- Deus deveria deixar mais evidências?
Uma terceira objeção levantada contra a existência de Deus baseia-se neste argumento: a existência de Deus, não sendo também mais evidente do que se poderia pensar, ou que deveria o ser, sucede que Deus não existe. Certos ateus afirmam que, se Deus existisse, Ele haveria feito as coisas de forma que as provas fossem suficientes para que todo o mundo cresse que Ele existe.
No Antigo Testamento Deus é descrito como que se manifestando ao seu povo de maneira bem visível: as pragas no Egito, as colunas de fogo e de fumaça que guiaram o povo de Israel no deserto, a separação das águas do Mar Morto...[mar Vermelho, na Bíblia] Mas estas manifestações produziram uma mudança durável de coração entre o povo? Não! O povo rejeitou a Deus por várias vezes. Por que as coisas seriam diferentes hoje?
Deus não quer somente que nós creiamos que Ele existe. Ele deseja que creiamos no que a Bíblia nos ensina acerca de quem Ele é: um Deus santo, justo, perfeito, cheio de amor e de misericórdia. João Calvino, o reformador protestante, dizia que de nada vale crer que Deus existe se não se deseja conhecê-lo.
Deus se revela
A Bíblia nos diz que "as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (Romanos 1:20). Não se pode provar sem sombra de dúvida que Deus existe, mas há certo número de argumentos que nos levam a crer.
[A versão utilizada na tradução do trecho do versículo bíblico foi a ARC. O autor utiliza assim: "les perfections invisibles de Dieu, sa puissance éternelle et sa divinité, se voient comme à l'oeil nu, depuis la création du monde, quand on les considère dans ses ouvrages."]
link para o texto em francês: http://www.questionsuivante.fr/science_et_christianisme-100.html
CONSIDERAÇÕES DO TRADUTOR
Há a necessidade de se fazer algumas considerações porque, apesar de o texto ser muito produtivo, a sua totalidade não expressa absolutamente a minha visão das coisas.
1ª - Esta primeira consideração não configura uma discrepância, mas simplesmente um maior esclarecimento sobre o princípio verificacionista em relação à assertiva "Deus existe". Se, por um lado, não se pôde até hoje verificar-se através de experiências a afirmação "Deus existe", por outro, a proposição "Deus não existe" também não foi provada. Assim, crer na não existência de Deus pelo fato de não haver sido provado empiricamente a validade da expressão "Deus existe" é cair em incoerência, porque não se conclui necessariamente que Deus não existe apenas por não se enxergar provas empíricas. Para tanto, seria absolutamente necessário a verificação da afirmação "Deus não existe".
2ª - No caso do processo criminal de um assassino, a ausência de digitais na arma do crime não será de fato suficiente para o absolver, mas tampouco bastará para culpá-lo. Para não ser incriminado basta não haver provas do crime. Mas o seu inocentamento não decorre da sua real inocência, porém, do fato de que não se apresentou nenhuma prova de que ele é culpado ou inocente, sendo, nesta circunstância, impossível a afirmação da sua culpa ou da sua inocência. Com certeza, ele é ou culpado ou inocente, mas faltam provas.
3ª - Quanto ao caso no qual se afirma a presença de um elefante na sala, a presença imediatamente vista do elefante é o bastante para provar sua presença. No caso da pulga, não se percebe de imediato a presença da pulga. Contudo, isso não implica na ausência total de provas, não implica a inexistência de provas, porque pode-se encontrar a pulga através de uma procura minuciosa e aplicada. Assim, mesmo com a pulga há prova que demonstre a sua presença na sala, se a declaração "Há uma pulga" for verdadeira.
4ª - O texto traduzido afirma não ser possível provar sem dúvida a existência de Deus, o que é questionável, porque as evidências e a razão apontam e exigem a necessidade de um Ser incriado, eterno, infinito, Criador, cuja existência não depende de tempo e espaço. Para que um dia houvesse algo, como hoje há várias coisas, é necessário que sempre houvesse algo, pois do nada absoluto não há a mínima possibilidade de surgir alguma coisa. Não sendo o universo eterno, porque, se o fosse, haveria uma quantidade infinita de fatos no passado de modo que nunca chegaríamos a viver o momento presente, é necessário que Deus haja criado a matéria, o tempo, o espaço, enfim, toda a criação.
O universo não é eterno e não pode ter surgido do nada. Assim, antes do universo havia algo, havia, logo, Deus.
O texto também afirma que há um grande número de argumentos que nos fazem crer. Ora, os argumentos que racionalmente demonstram a necessidade da existência de Deus são as provas objetivas de Sua existência, embora a razão humana seja limitada e a revelação divina seja imprescindível.
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