Vidas Secas
Graciliano Ramos
"Vidas Secas" é a estória de uma sofrida família do Sertão, que sai de sua cidade por causa de uma grande seca e segue em busca de um lugar para viver. Vão Fabiano, sua esposa, seus dois filhos e a cachorra Baleia caminhando num sol fortíssimo por um grande deserto. O romance começa nesse instante. Depois de muito caminhar, a família se depara com a morte, mas Baleia os salva arranjando alimentos para eles. Encontram uma fazenda abandonada e se instalam por lá, cuidando de vacas e de porcos, entre outras coisas. Eles se apegam à fazenda, o tempo melhora, começam as chuvas, tudo parece ir bem; a chuva causa uma enchente e a fazenda e a família correm perigo. Nem no sol, nem na chuva encontram descanso e estabilidade. A trama prossegue e encontra o seu fim com a família deixando novamente uma moradia e partindo para outro lugar, já sem a cachorra Baleia.
Nesta obra, Graciliano Ramos se esmerou bastante na descrição psicológica das personagens, que são pessoas rudes, simples e sem instrução, que buscam sempre por alguma coisa melhor, mas em tudo frustradas. Destaca-se Fabiano, homem austero, severo de personalidade, mas que não sabe articular sem problemas uma seqüência lógica de pensamentos. Sua comunicação se dá por gruinhos e barulhos diversos na maioria das vezes. Fabiano é homem bravo com a família, mas fraco de personalidade perante as pessoas da cidade. Não sabe fazer contas e entra em situações difíceis e humilhantes por causa de atitudes impensadas. O autor de "Vidas Secas" passa uma visão determinista da realidade, se aproximando bastante do darwinismo ao quase nivelar os seres humanos aos animais, como na comparação que podemos fazer entre a esperta cachorra Baleia e o bruto homem Fabiano. A família da estória vive uma vida muito sofrida, infeliz, sem vitórias consideráveis, vivendo ao acaso das circunstâncias e sem esperanças concretizadas. Não sei qual a intenção do autor, mas espero que não tenha sido a de descrever os sertanejos do mundo real. Pelo que sei, não conheço nenhum sertanejo, mas espero que, se sofridos, se austeros, tenham na vida muitas vitórias, e tenho certeza que não vivem debaixo de um determinismo que quase os nivela aos animais; espero que tenham esperanças concretizadas e muita dignidade.
A oração da coroa
Demóstenes
Demóstenes foi um dos maiores oradores de todos os tempos e "A oração da coroa" uma das obras primas da arte oratória. O autor se mostrou uma pessoa altamente dedicada, porque tinha problemas de dicção e dificuldades respiratórias. Para vencer a má dicção, colocava pequenas pedras na boca e discursava na praia, também com o intuito de, lutando contra o barulho das águas, acostumar-se ao barulho das multidões. Para triunfar sobre os problemas respiratórios, subia os morros da Grécia correndo e declamando poemas. Além disso, para melhorar o estilo da enunciação, Demóstenes se fechou em um porão e copiou toda a História de Tucídides. Nesses aspectos, foi um exemplo de dedicação e alcançou uma oratória elevada, mas jogou tudo de água abaixo quando se matou.
Depois de muito tempo que atuou na política da Grécia, combatendo o macedônio Filipe II, pai de Alexandre Magno, os atenienses, mais especificamente Ctesifonte, decidiram dar a Demóstenes uma coroa de louro na ocasião das encenações no teatro. A isso, o orador e político Ésquines levantou uma muito frágil acusação. Demóstenes não se impediu de esmagar todo o libelo com uma defesa de estilo esmerado, mas cuja argumentação se demonstrou impetuosa e violenta. O resultado foi que Ésquines não só perdeu a causa, sendo Ctesifonte e Demóstenes inocentados, mas o tal acusador foi mesmo condenado ao exílio.
Auto da Lusitânia
Gil Vicente
Mais um auto de Gil Vicente, humanista católico, que possui uma estruturação interessante, utilizando-se do atualmente chamado mise-en-abyme, que na prática significa uma estória dentro da outra, implicando numa mudança de nível. Os níveis da peça são três: 1) Farsa dos judeus, que conta a estória de uma família judia e do cristão, o "Cortesão", que queria casar-se com uma moça da família, a "Lediça"; 2) Fantasia alegórica, que narra o surgimento do povo português antes da formação do Estado, a partir do casamento de Lusitânia, filha de Lisibea, com Portugal, grande caçador; e 3) Moralidade, que apresenta a conversa de Berzabu e Dinato (dois diabos), num plano, e a de Todo o Mundo e Ninguém, noutro. A peça é feita em versos heptassilábicos (redondilha maior) rimados. A peça é engraçada, com forte crítica social e moral, e apresenta aspectos ecumênicos, como a sugestão representada pela vontade do cristão de casar-se com a judia "Lediça", por exemplo.
Próximas Impressões:
- A Liberdade do Cristão - Sincera Admoestação a Todos os Cristãos - Da Autoridade Temporal / Lutero
- O cão dos Baskervilles / Sir Arthur Conan Doyle
Impressões da postagem [2]:
- Vidas Secas / Graciliano Ramos
- A oração da Coroa / Demóstenes
- Auto da Lusitânia / Gil Vicente
Veja as impressões [1] e [2]
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