segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Rápidas impressões sobre livros lidos em 2009 [2]

Memórias Póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis

A leitura desse livro é pesada, mas nela fica evidente a destreza da pena de um grande escritor. Machado de Assis sabia lidar com as palavras: frases curtas, sentenciosas, ambíguas, misteriosas, estilo senecano. Contudo - aqui muitos discordarão e eu lhes peço paciência - , Machado de Assis não é o tipo de leitura que me agrada. É um texto pessimista, que critica severamente, talvez, que expõe as mazelas da sociedade da época, talvez, mas que acaba por não nos trazer um ensinamento ou uma lição útil, positiva e verdadeira para nós. Platão já dizia que imitar o vício é fácil, mas a virtude não. O que Machado faz é imitar os vícios de uma sociedade corrompida e desvirtuada, caindo num pessimismo muito grande, porque não anuncia, literariamente que fosse, nenhuma saída. Em Machado, muita coisa é ambígua, muita coisa é misteriosa, muita coisa é imprecisa, o que acaba por nos deixar num vazio ao final das obras. Com certeza, há o prazer na leitura literária, mas penso que ela deve nos trazer sempre algo de positivo, como em Antígona de Sófocles, em que podemos entrar em contato com algumas idéias importantes, como: 1) Há leis eternas que estão acima de qualquer lei humana, feita por qualquer tirano; 2) A tirania resulta em derrota; 3) Numa sociedade em que os que deveriam falar se calam, é necessário haver alguém com pulso firme e com ousadia, para honrada e destemidamente combater a tirania; e 4) Quem se levanta contra a tirania sozinho está sujeito a padecer gravemente, mas é melhor isso que a corrupção e o medo (Antígona será comentada em outra postagem). Enfim, Machado era muito hábil com as palavras, mas, no que li dele, não nos trazia algo de verdadeiramente positivo. Por isso, e talvez por outras coisas também, a leitura não me agrada.

Auto da Barca do Inferno
Gil Vicente

Nesta peça em versos métricos, o humanista Gil Vicente nos traz um quadro em que há duas barcas à beira de um rio, uma para o paraíso, outra para o inferno. Dentro da primeira há um anjo e dentro da segunda o diabo. Com muito humor e moralismo, personagens típicos da sociedade medieval, como o fidalgo e o religioso, vão chegando junto à barca do paraíso para ir ao céu; todos se acham no direito de entrar nela; todos são mandados sem rodeios para a barca do inferno, na qual o diabo zomba e gargalha (hihihihiihi), fazendo seus trocadilhos infames. O único personagem que vai direto para a barca do inferno e não se julga digno do paraíso é o Parvo. Por isso mesmo e pela sua inocência, ele é o único a ir ao paraíso, juntamente com alguns cavaleiros que aparecem mais para o fim da obra.

Próximas impressões:
- Vidas Secas / Graciliano Ramos
- A oração da Coroa / Demóstenes
- Auto da Lusitânia / Gil Vicente


Impressões anteriores:
- 200 sonetos / Camões
- Discurso do Método / René Descartes
- O plano de Deus para a vitória / Rushdoony

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