sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Uma refutação - Relativismo

Antes da argumentação coloco, de princípio, um pressuposto básico:

- Ou é relativo ou absoluto. Não há possibilidade de ser relativo e absoluto. Se não é absoluto, é relativo, se não é relativo, é absoluto.

O Relativismo defende a idéia da não-existência da Verdade Absoluta e objetiva. Assim, qualquer pensamento tido como verdade por uma ou mais pessoas é aceitável e não é nem melhor nem pior do que outros pensamentos também tidos como verdades. Duas coisas interessantes podem ser percebidas à partir daí:

1 - O Relativismo defende a relatividade, porque pensa ser esse pensamento correto. Defende a relatividade da verdade, visto acreditarem ser a verdade relativa.

2 - O Relativismo tem de aceitar, pelos seus próprios postulados, que a crença "O Relativismo é falso" tem igual valor a "O Relativismo é verdadeiro".

Começarei pelo segundo.

(2) _ Afirmando a arbitrariedade da verdade e o igual valor entre todas as verdades, o Relativismo assume que é tão valoroso afirmar "O Relativismo é sensato, correto e verdadeiro" quanto "O Relativismo é insensato, incorreto e falso". Noutras palavras, é tão valoroso o relativismo quanto o seu contrário, isso segundo o próprio relativismo. Logo, o Relativismo não é mais que uma simples crença; pela própria corrente, nem melhor nem pior do que a crença na verdade absoluta.

Se você acredita no Relativismo, de acordo; se não acredita, e crê no oposto, de acordo também. Desta forma, por sua própria cosmovisão, o relativista está impedido de criticar o que for, quem for, porque o Relativismo não é melhor do que o seu oposto, pela própria corrente.

Deve-se aceitar absolutamente tudo, e isto é absoluto.

Agora o item um.

(1) _ Neste tópico reside uma grande contradição relativista, porque defender uma posição é tentar mostrar justamente que ela é verdadeira e superior à sua negação e a outras idéias divergentes.

O Relativismo defende a si próprio, o que significa, em consequência, que ele se propõe verdadeiro e superior, mais digno de aceitação, ao seu oposto e a idéias diversas. Se não fosse assim, não haveria motivo para um filósofo teorizar o Relativismo; não haveria sentido em escrever um livro sobre Relativismo, salvo, talvez, para criticá-lo. Contudo, se ele não fosse primeiramente teorizado, não haveria como tecer-lhe críticas. Eu estou criticando-o, logo, ele foi teorizado.

A simples e totalmente imparcial descrição do relativismo seria, outro tanto, também sem significado, pois, mesmo quando descrevo o pôr-do-sol, tenho um objetivo central na descrição. Portanto, se há a teorização relativista, e a defesa do relativismo pelos próprios relativistas, o Relativismo se mostra incoerente e auto-refutante.

Caso não existisse a verdade absoluta, como os relativistas pregam, e todos os pensamentos fossem iguais em valor, defender a corrente em questão seria irracional, como defender qualquer outra. Se uma está de acordo e a outra também, escolher arbitrariamente é a melhor escolha. Não preciso argumentar, qualquer crença está de acordo, segundo o relativismo. Argumentar seria esforço inútil, porque vou terminar acreditando numa crença de igual valor que a que combati.

Há ainda um terceiro item.

3 - O Relativismo se propõe, por inferências, a verdade absoluta e transcendental.

(3) _ Ponto polêmico, talvez, mas coerente e racional.

Verdade absoluta e transcendental é aquela que é a mesma independentemente do tempo e do espaço. A verdade absoluta era verdade absoluta, independente do que pensavam dela, no Egito há 5.000 anos, no Egito de agora e no Egito do futuro, seja o futuro terreno do tamanho que for. Ela era verdade absoluta na China de 4.000 anos atrás, na Pérsia de 1.000 anos, na França de 50 anos, etc. E é exatamente isso que, mesmo por inferências, o Relativismo afirma.

Se pergunto a um relativista se há verdade absoluta, ele dirá "Não". Se lhe pergunto:

- Na Grécia Antiga, de Sócrates, Platão, Aristóteles, havia verdade absoluta?
- Em Israel, no ano 27 d.C., havia verdade absoluta?
- Quando da queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., havia verdade absoluta?
- E na Rússia de 91 anos atrás?
- E na Alemanha atual?

Com certeza, se o relativista quiser ser coerente com o Relativismo, para todas as perguntas a resposta será "Não".

Mas veja a cabal contradição. Se a verdade absoluta e transcendental não muda nem com o tempo nem com o espaço e pressupõe-se haver tido relativismo de valores e verdades desde há 4 mil anos e também mais para trás, em todas as nações, todas as sociedades, pois uma era relativa à outra, inferindo que tudo sempre foi relativo, isso não seria propor uma verdade absoluta e transcendental? Com certeza. Mas os relativistas negam a verdade absoluta e afirmam a transcendentalidade e o absolutismo (absolutidade) do próprio Relativismo. Isso é faltar com a perfeita relação lógica entre as idéias.

Mais desastroso seria, eu penso, se, para negar a transcendentalidade do Relativismo, o partidário dessa filosofia afirmasse que em certos períodos da história houve relativismo e em outros a verdade absoluta e transcendental. Aí ele já está dando um passo para a negação do Relativismo, pois já aceitou a verdade absoluta como possível. Contudo, se a lógica é: "ora há relativismo, ora há verdade absoluta, e assim continuamente", não se anulou a verdade absoluta e transcendente, porque, assim, a verdade seria: "o mundo funciona de maneira que ora há verdade, ora há relativismo e sempre será assim". Mas eu penso que esse argumento é por demais desastroso.

Sabendo haver mais a tratar acerca do Relativismo, limito-me, contudo, acreditando ter mostrado, pelo menos, o caráter contraditório da corrente em questão, não sendo, logo, possível a crença racional em tal filosofia. Mas como último argumento, a saída, em conclusão, é crer na verdade absoluta, porque, se relativismo é o oposto da verdade objetiva, havendo sido mostrada a falsidade dele, então, pela lógica, a verdade absoluta é a verdade absoluta, pois o contrário do falso é o verdadeiro.

(Rouver Júnior)

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente quadro argumentativo, meus parábens, rapaz!