segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Fantasmagorias - Introdução

O que um homem que tem uma tempestade em seu interior pode dizer? Não se impressione o leitor se ouvir rajadas de trovões e ver riscos de fogo rasgando o firmamento com forte e veemente impetuosidade. O desencanto das flores mundanas lateja em seu peito e é inflamado pelo amor aos cegos. Cegueira que vê no reflexo uma límpida aparência distorcida da veraz realidade, e a imagem é o engano.

Sem a formalização ilustre dos altos sábios, que nada ou quase nada sabem de verdade, a pena, a caneta, o pincel, o html são a simplicidade da borrasca cor-de-chumbo. Nesse mundo, há mestres soberbos, sábios tão entendidos na ignorância da verdade, de ignorá-la, cujo exclusivo e tão prazeroso trabalho é ensinar, instruir, ao contrário, é fazer dos seus discípulos pessoas preparadas e bem dispostas a mentir. São mestre na mentira. Doutores de si mesmos, doutores de cegos.

Toca a sinfonia da Procela, mas o cego não consegue discernir as notas e arpejos, muito menos entender a lógica da melodia. O cego não ouve! Mas para que soar o trompete então, poeta?
Ah! Creio que é a crença que mesmo a surdez e a cegueira são partidas ao meio, e morrem, pelos raios de verdade. Relâmpagos querem clarear a obscuridade da alma do cego. Mas como, se a porta da cabeça está fechada? A Verdade abre porta onde não há porta. Se no brilhar destas linhas a Verdade se faz ouvir, o cego verá, algum cego verá!

Máscaras de baile escondem do espelho a face horrível do cego, que olha e vê a superfície de um sepulcro caiado. O belo mausoléu de fino mármore está podre por dentro.

A imagem falsa no espelho, a imagem falsa diante do ajoelhado. Tornem-se semelhantes a esta todos os prostrados diante dela. Ora, leitor, imagens tem olho, mas não vêem, tem ouvidos, mas não ouvem; nariz tem, mas não cheiram; pernas, mas não andam. Os mestres ao contrário ensinam ao avesso os seus discípulos cegos e surdos, que não saem do lugar, nem um passo de desenvolvimento, a serem imagens. Serão imagens do que não são e imagens que não são. Não são o quê? Não são nada além de morta matéria.

Mas há a imagem que se move diante dos olhos dos cegos sentados, ou deitados, mas é morta porque anuncia o pecado. Esta é a imagem que brilha e que dela sai som. Caixa com janela de vidro. Oceano de mentiras, com poucos barquinhos de verdade. Estes dizem verdade, nem todos.

Tantos raios! Tantas rajadas! Trovões! Em verso, o inverso dos mestres ao avesso: um desejo de que os cegos, surdos, inertes, vejam, ouçam, vivam.

Escutem, cegos, e vejam, surdos, os louvores a Deus, a Verdade pregada na cruz um dia, mas ressurreta ao terceiro dia, gloriosa, com toda a glória, hoje, à direita do Pai, e que há de julgar a humanidade.

Que os cegos deixem de ser surdos e os surdos de ser cegos, porque o cego é o surdo e o surdo é o cego, e ambos a mesma pessoa, sob nomes diferentes.

Rouver Júnior

Um comentário:

Anônimo disse...

Que maravilhas as poesias postadas. querido irmão9 continue audacioso como o poeta Salomão, mas, mantenha sempre a graça de Cristo.