"Ser poeta", poema de Florbela Espanca, é um primor, como vários outros sonetos da poetisa, altamente fortes na expressão e ricos de imagens impetuosas. Apesar de não me congratular com as temáticas mais recorrentes da poesia de Florbela (prefiro cantar a alegria), reproduzo esse soneto por sua beleza artística, estética e expressiva. Vale a pena ler e tirar o melhor proveito.
Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(ESPANCA, Florbela. Sonetos. Editora Bertrand Brasil SA, 4ª Edição, Rio de Janeiro, 1987, p. 134)
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